Embousté Blanche

(Agora é a Carol)

Ontem rolou no centro de Toronto a tão anunciada Nuit Blanche, que leva o subtítulo "a free all-night contemporary art thing" (algo como "um treco grátis de arte contemporânea que dura a noite toda"). Pois é, "thing" é uma boa descrição. Porque não dá bem para explicar.

É um mega-evento artístico (com diferentes graus de seriedade artística) que vira a noite toda. Justiça seja feita, havia milhares de pessoas na rua -- nunca vimos TANTA gente junta aqui antes -- e o evento não é exatamente "fácil", no sentido de entretenimento popular, inclusive considerando que é proibido beber em público e grande parte das atrações são em locais públicos.

O mais legal são várias dezenas de museus e galerias abrirem as portas de graça, a noite toda. Tá, mas vá ver o tamanho das filas. São centenas de pessoas para cada atração, gerando grandes congestionamentos humanos que várias vezes tornavam difícil a gente andar.

E o mais, bom, bizarro são as atrações independentes, uns troços "artísticos" modernosos. No catálogo, eu selecionei duas coisas públicas que me deixaram curiosa. Uma, num parque, seria uma aparentemente grandiosa representação da chegada de uma nave espacial. Outra era algo cuja descrição era tão incompreensível que eu tinha que ver de que se tratava: era patrocinada pela rádio da Universidade de Toronto e em tese geraria "a fog of white noise" (uma névoa de ruído).

Após uma boa caminhada, um clarão grande nos mostrou onde era o local da chegada dos alienígenas. Ao chegarmos lá, constatamos que se tratava de uma estrutura metálica cheia de holofotes projetados para as árvores, e caixas de som que reproduziam os diálogos de "Contatos imediatos de terceiro grau". Digamos que nos sentimos como se tivéssemos caído num trote, mas tivemos que tirar o chapéu para o autor da obra: ele provavelmente ganhou uma grana para expor holofotes e diálogos de um filme que não é dele.

Andamos mais um pouco até a rádio da universidade. Debaixo de uma barraca, uma banda de reggae tocando, e algumas pessoas dançando em volta. Nada de "fog" nem de "white noise". Continuo sem saber que diabos será isso. Meu consolo é pensar que provavelmente o autor da obra também não sabe.

Entre essas atrações, passamos por pedaços de manequins, filmes esquisitos projetados nas paredes, pessoas maquiadas, uma instalação artística que consistia no público se sentar numa escrivaninha, escrever frases num papel, depois amassar o papel e jogá-lo numa pilha de papéis amassados... Às vezes víamos pessoas deitadas no chão ou vestidas de um jeito estranho e ficávamos na dúvida se elas eram uma instalação artística ou não.

Acho que a arte de hoje em dia está complexa demais para nós.

Mas é bom saber que tantos artistas (ou aspirantes) podem desenvolver suas experiências, atrair uma quantidade inacreditável de público e que a cidade toda se torna palco de eventos que fogem do lugar comum.

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